quinta-feira, 6 de junho de 2013

Escolas defendem ensino de programação a crianças e adolescentes




programacao phpEm fevereiro, Mark Zuckerberg, Bill Gates e Jack Dorsey apareceram em um vídeo de divulgação de uma ONG destinada a ensinar linguagem de programação de forma fácil e gratuita. Bill Clinton, Al Gore, Arianna Huffington, Mike Bloomberg, Steve Ballmer, entre outros, também deram declarações de apoio.

É fácil imaginar por que personalidades das classes tecnológica, econômica e política defendem esse tipo de aprendizado, mas até alguns nomes aleatórios, a exemplo de Ashton Kutcher e Snoop Dogg, constam na página da Code.org. O ator chega a dizer que, nas escolas, codificação de computadores deveria estar lado a lado com matérias tradicionais como biologia, química e física.

Mal sabiam eles que o esforço mexeria tanto com educadores brasileiros.



Faz bem ao cérebro
 

Por aqui já existia movimentação parecida há algum tempo, tanto que não é de hoje que algumas escolas oferecem cursos focados em tecnologia - e não naquele sentido genérico de "informática" introduzido na década de 1980, mas voltados a programação, robótica, mídias digitais.

No Colégio Móbile, em São Paulo, a partir do 1º ano do Ensino Médio os estudantes precisam escolher um curso eletivo e, em meio a criação literária, espanhol, política, prática esportiva e teatro, constam as disciplinas de criatividade em mídias digitais e robótica.

Este é o quarto ano em que os alunos da escola podem estudar tão de perto a tecnologia, mas só agora o tema está entre os obrigatórios. Apesar de não terem de escolher especificamente esses cursos, os estudantes têm aprovado; tanto que, se antes a matéria de robótica não prendia 20 pessoas numa aula, hoje reúne dois grupos de 20 alunos cada no 1º ano e outros três grupos de 20 no 2º.

Já no Vértice, também na capital paulista, quem estiver passando pelo 8º ou pelo 9º ano do Ensino Fundamental não tem como fugir da tecnologia. E o vídeo com Zuckerberg e companhia serviu de estímulo para a escola, tanto que a propaganda foi apresentada às crianças e aos adolescentes. "[O vídeo] fomentou bastante nossa dúvida sobre puxar para isso ou não", afirma o professor de informática Mateus Ferreira.

A motivação, entretanto, é diferente da apresentada pelos apoiadores da Code.org. "Programação é importante pelo mercado de trabalho, que pede muito isso, mas nosso objetivo principal não é esse. Queremos desenvolver certas habilidades que a programação exige dos alunos, como raciocínio lógico, causa e consequência, raciocínio matemático, linguística... o que está inserido no dia a dia", explicou Ferreira.

A indústria também não é a principal preocupação do Móbile, que ensina programação... sem ensinar programação. A escola monta problemas envolvendo tecnologia e faz os alunos pensarem no que precisam fazer para resolvê-los; só depois é que os jovens pegam nas apostilas para procurar respostas.

"Não adianta darmos aula de programação se esse aluno não precisa. É como se ensinássemos todas as letras se ele não sabe montar palavras", justificou Rodrigo Mendes, coordenador educacional. "Apresentamos os problemas e eles usam a robótica como ferramenta."

A quem quer trabalhar 

Por outro lado, não param de surgir iniciativas em prol da profissionalização, como o Projeto Jovem Programador, cuja intenção é complementar o aprendizado de alunos de computação para levá-los ao mercado de trabalho. E o estímulo, mais uma vez, veio da Code.org.

"Em 2010, fizemos um esboço e tentamos implantar em uma escola técnica. Gastamos muita energia para tentar colocar ele em prática, tivemos alguns empecilhos por parte da escola e decidimos 'congelar' o projeto. Neste ano, após assistir ao vídeo da Code.org, nos motivamos novamente e pensamos: 'Precisamos reativar o projeto Jovem Programador'", conta Michel Amaral, cofundador da Designa, que encabeça a ideia.

O teste foi feito com estagiários dentro da própria Designa, que conseguiu apoio da iMasters depois que eles também viram a divulgação da Code.org.

Junho foi o mês escolhido para o começo da primeira turma, que é formada apenas por universitários. Até o fim do ano o projeto terá sido levado ao Brasil todo e, futuramente, Ensino Médio, escolas técnicas e até quem estiver na educação infantil poderá contar com o Jovem Programador.

Reprodução

Não é de hoje que nosso país se preocupa com o ensino informático, só que há anos ele vem sendo tocado como algo não essencial. "É verdade que no Brasil as escolas começaram a avançar a passos largos em direção à tecnologia nos anos 1980. As grandes escolas investiram em seus profissionais, preparando-os para assumir essas aulas", conta a pedagoga Roseli Neumitz, que por anos atuou como professora de informática em escolas.

Na época se usava muito o Logo, uma linguagem de programação criada na década de 1960, no Massachussetts Institute of Technology (MIT), e traduzida pela Unicamp em 1982. O aluno via, na tela do computador, uma tartaruga responder a comandos que a fazia escrever, desenhar etc. (como você pode ver na imagem acima).

"A indústria do software educacional cresceu em um ritmo muito forte e muitos trocaram o Logo por produtos já prontos", conta Roseli. "Depois, surgiram os softwares de autoria, com os quais o aluno 'planejava' e criava a estrutura de uma apresentação, criando botões e links. Esses softwares já apresentam uma plataforma mais amigável, mais fácil para o aluno."

Falta gente qualificada

Mesmo com investimentos como esse, o setor andou de forma vagarosa. Faz 30 anos que o Logo foi traduzido, então o ensino dessa linguagem poderia ter gerado interesse suficiente para formar uma geração inteira de programadores, mas o mercado de tecnologia ainda sofre com falta de mão de obra.

Na realidade, há uma demanda global por profissionais de tecnologia que não está sendo atendida, por isso tantas personalidades se uniram pela causa. E é claro que no Brasil a defasagem também seria realidade. Dados da Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom) revelam que falta bastante gente para a área em estados como Rio Grande do Sul, Paraná e São Paulo - só SP precisa de cerca de 3 mil pessoas qualificadas.

Ou seja: há emprego para quem estiver preparado. O próprio Zuckerberg, em sua declaração à Code.org, deixou claro que as portas estão abertas: "Nossa política no Facebook é, literalmente, contratar quantos engenheiros talentosos pudermos encontrar. Simplesmente não há um número suficiente de pessoas que são treinadas e possuem essas habilidades hoje."
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